Do Mosquito

Pois é, como depreendido pelo meu sentido post de despedida de Angola, estou a poucas semanas do regresso definitivo (que ainda assim não encerará por completo a minha vida profissional por estas bandas).

Mantendo-me na mesma empresa, continuarei responsável pelo mesmo negócio, que decorre aqui. O que significa que virei algumas vezes por ano rever os meus clientes, cuidar do meu negócio e fazer o desmame de Angola. Sim, que cortar assim a seco com seis anos de passado seria, para mim, muito complicado. Melhor assim.

Com o descanso que as vindas são esporádicas, controladas no tempo e por mim, e que a minha filha está segura em Lisboa, longe dos mosquitos epidémicos, do crime desorganizado, enfim,  do Texas em que isto, infelizmente, se transformou. São ciclos, dirão os mais optimistas. O preço do petróleo vai subir dizem outros. Tretas, estou aqui há seis anos, estou farta e quero ir para casa. Acho justificativo suficiente. Também acham, não acham? Pois é.

Mas isto para vos contar uma história bonita, que começa assim ao melhor estilo camoniano: Estavas, linda Margarida, posta em sossego, a semanas de bazar, após seis anos de imunidade a toda e qualquer doença tropical (salvaguardando a minha dezena de gastroentrites),  e eis,

Eis!

Eis que a febre sobre aos 39,2 e Margarida se dirige em piloto automático para a Clinica mais próxima e fica imediatamente a soro, antibióticos, dipironas. Diagnóstico: Paludismo. Oh filha-da-mãe de sorte, que esta terra tem feitiço quer me deixar a sua marca (já deixavas filha, escusavas-te disto) isso ou então quer me punir pela minha decisão desertora.

Macumbas à parte, a verdade é que perguntei ao senhor doutor, achei eu especialista no tema (já que isto a malária é doença de país pobre, e como tal, ninguém percebe nada dela. Não interessa muito, porque são os pobres que morrem e nobody really cares) "olhe Dr. e já agora, qual é a diferença entre Paludismo e Malária?". Não consigo reproduzir aqui a resposta pois foi por demais confusa, fiquei na mesma, apenas um bocado mais assustada face à minha condição e ao profissional de saúde ao qual estava entregue.

Mas isto é mesmo assim aqui no no hemisfério sul onde, como diz a Mafalda do Quino, as ideias caem da cabeça porque estamos ao contrário. E eu, que ando a deixar cair ideias para o espaço sideral há seis anos já devo estar demasiado habituada a estas idiossincrasias dos sistemas de saúde em Angola e a verdade é que tratar paludismos é aqui: Apesar da falta de clareza das explicações, mal ou bem, estão habituados a tratar esta "tipo-gripe-mas-em-mau". Em Portugal não percebem nada disto (não é por mal, é porque nunca o viram, só nos livros).

Resumindo. Estou mal, isto dói, dá febres malucas, já suei 30 litros e tremi 400 volts, assusta um bocado pela falta de confiança no sistema, espero que seja mesmo paludismo e não outra doença maluca qualquer e sobretudo, sobretudo, espero que a Matilde não tenha sido picada pelo mesmo filho-da-puta que me picou, a três semanas de se ir embora de vez daqui.

Porque se isso acontece, aí sim, aí fico passada. Mas em mau. E vou de Xeltox em punho matar todos os mosquitos que ousarem sequer existir a 500 metros de dela. A vingança será terrível.
Brincadeiras à parte, ando a medir-lhe a febre cerca de 50 vezes ao dia, ou seja, ando mesmo preocupada.

Enfim.
Vou dormir que me dói a cabeça,

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