Profissão: mãe?

Quando estamos gravidas, lá no longínquo primeiro trimestre, achamos que isso de parir está distante, tão distante como o planeta-que-não-o-é plutão e é uma realidade ela própria desfasada da realidade. Depois, quando somos mães, somo-lo de forma tão total que o regresso à vida profissional fica noutra galáxia. Está lá, é certo, qual ameaça a pairar no futuro, mas é um futuro altamente longínquo, um futuro separado de nós por três meses... Dois meses... Um mês... Um fim de semana.

Segunda-feira recomeço a trabalhar e o meu coração anda há uma semana do tamanho de um pinhão. Ando a aproveitar estes momentos todos de contacto constante com a minha Quiquinha enquanto penso que depois já não vai ser assim. Vai ser assim dois dias por semana e isso é ridículo de pouco. Depois já não sou acordar a minha filha de manhã para lhe dar o biberão matinal. Depois já não vou ficar com ela na cama a namorar e a rematar o sono. Depois já não vai ficar deitada na minha barriga como se a ela tivesse regressado. Depois ja não vou estar aqui para a adormecer depois do almoço. Ja não vou nanar a minha filha para a sesta. Vou estar lá no meio de power points e reuniões a pensar - porque vou pensar - a esta hora ela está a beber o biberão do meio dia. Será que já bebeu? Será que bebeu tudo? Será que esta tudo bem?

A primeira partilha da minha filha foi quando ela nasceu. A partilha com o mundo. Agora é uma nova partilha: a partilha das horas só nossas com uma terceira pessoa. É quase uma emancipação. Tenho medo de perder partes importantes. Tenho medo, sei lá, que ela diga a primeira palavra à babá e não a mim.

Sempre disse que não tinha vocação para ser stay-at-home-mum mas se calhar até tenho. Por mim ficava aqui sempre a vê-la crescer. Mas não pode ser. Porque o pai não pode ser o único a ganhar para comer. Porque a mãe tem ambições e objectivos profissionais para concretizar. Objectivos que me farão relembrar da Margarida outra que não tão só é simplesmente a mãe da Matilde. Porque uma mãe realizada é uma mãe feliz e uma mãe feliz faz os seus filhos mais felizes. Porque afinal, eu gosto do que faço, tenho prazer na minha profissão e não. Eu não quero ser uma dondoca de casa imaculadamente branca, sempre arranjadíssima e magérrima. Não. Não quero ser perfeita. Os erros vão acontecer, os dias vão passar e equilíbrio entre a maternidade e vida profissional irá chegar.

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