O Angolamento da Matilde #1
Queridos ilustres amiguinhos fofinhos. Eu sei que não posso começar todos os meus posts com auto-reprimendas sobre o tempo que passo sem comunicar com deve ser, através do blog. Na verdade, desde que fiz a página do facebook, tornou-se prático ir deixando os meus pensamentos em formato post telegráfico mas sinto que estou a desvirtuar o verdadeiro sentido deste blog, que é, afinal, partilhar a minha experiência de maternidade através de um formato que tanto gosto - a escrita.
E na verdade há muito para contar. Como já devem saber, eu e a minha fofinha aterrámos em Angola no passado sábado dia 18. Foi um stress brutal. E ao mesmo tempo foi uma transição natural. Parece contraditório, mas eu explico:
Uma semana antes de voarmos, estivemos em Portalegre em casa dos meus pais e aí estava verdadeiramente angustiada: comer era impossível, a bola no estômago chegava aos olhos, o coração apertado, as visões negras do futuro, o medo irracional de mosquitos e bandidos. As lágrimas. O desespero: não vamos. Desisto e ainda nem comecei.
Mas, não vir não era opção. O pai está em Angola. O meu trabalho está em Angola. A minha vida está em Angola. Eu sempre gostei de viver em Angola. Claro que a mim os mosquitos e a agua podre que corre nas torneiras nunca me assustaram. Mas agora não sou só eu. Sou eu e a pessoa mais importante no meu mundo e a ferocidade com que a quero defender de todo e qualquer perigo esmaga-me o coração. Mas vir era a única opção.
E viemos. Como temos um grande suporte familiar, as coisas da Matilde foram sendo trazidas gradualmente: as fraldas - que cá são carérrimas - e kg de compressas e soro fisiológico e embalagens e embalagens de bepanthene, creme dos mosquitos, muda fraldas, o parque chuchas, roupa que sirva até aos 9 meses, vacinas, benurom, medicamentos para a hidratação em caso de diarreias, brinquedos que acompanhem a evolução cognitiva motora até aos 9 meses, protector solar... Podia continuar com a lista que era de facto infindável. A verdade é que veio tudo. Tudo! Eu trouxe 80kgs em malas e nem sei como consegui trazer tudo.
O voo correu bem. Aconselharam-me - e aconselho aqui - a dar de mamar/ biberão na descolagem e aterragem por causa da pressão nos ouvidinhos da princesa. Assim fiz diligentemente. A Matilde portou-se muito bem. Dormiu na sua alcofinha que a hospedeira montou e brincou com o Rato Ratimbeco que a TAP oferece aos bebes viajantes.
Tranquilo! Eis que para o avião: muda a roupa, mete uma camisinha fresca, tiro as ceroulas? Não tiro que tem mosquito, a fofa ao meu colo a mostrar o passaporte, eu a rezar aos santinhos todos que o homem não se pusesse a inventar que eu já tinha o braço dormente e encharcado dos litros de suor que a minha princesa largava - porque raio não lhe tirei as ceroulas?! - e as malas que não vinham e as malas que eu não conseguia levar mais o carrinho dela - homem? Onde estas? Tens que entrar para aqui que eu sozinha não consigo! Eles não me deixam entrar, dizia ele, e lá vou eu, de Matilde em punho, pedir ao parvo do guarda para deixar o homem entrar "que eu sozinha nao consigo!" - e o carrinho, onde está? E as malas, onde estão?! E o isofix? Onde esta a treta do isofix que sem isso não podemos andar com ela no carro! Está na alfândega, diz um. E eu vou para a alfândega. Está no tapete, diz o outro. E lá volto eu para o tapete.
E o calor imenso e pegajoso que ja mal recordava. E os mosquitos a cirandar o ovinho da minha querida sob o meu olhar fulminante.
Eis que chegamos a casa. O homem querido preparou todo um jantar de recepção mas a bola do estômago nesta altura chegava ao cerebelo e eis. Eis! Que a minha filha acusa a pressão, o excesso de confusão, os estímulos exagerados para um so dia e abre a goela num berreiro que eu nunca tinha presenciado. Chorou, senhores, mas de verdadeiro desespero. E eu chorei com ela enquanto lhe pedia desculpas baixinho por a ter feito passar por tudo isto.
Perdoa-me filhota. Perdoa-me antecipadamente qualquer porcaria que aconteça nesta terra de perigos à espreita em cada esquina.
Mas as coisas melhoram a cada dia. E vão melhorar cada vez mais.
To be continued...
M&M
Não leves a mal, mas a mim assusta-me a ideia de viver em Portalegre.Vivi lá 2 anos e foi o sítio onde me senti mais infeliz.Bjs
ResponderEliminarPassado mais de um ano, digo com toda a certeza: é mais assustador viver em Portalegre do que em Angola.
EliminarMas, mil vezes.