Carta aberta a ti, filha.
Filha,
Hoje dormiste cedo. Conversaste comigo e com a madrinha, partilhaste os teus pontos de vista, os teus argumentos (gue, me, rau) eu concordei e percebi que tinhas soninho. Embalei-te dois minutos de chucha na boca e adormeceste ainda antes de a madrinha ir embora. Deitei-te na tua caminha de princesa e lá ficaste, princesa a suspirar e a dormir. E eu fiquei com tempo para pensar no quanto gosto de ti.
Há uma semana ficaste doente. Pela primeira vez, doente de verdade, com febre. O meu mundo desabou. Parecia um filme. Pareceu tudo uma experiência extra-corpórea. Vi tudo de cima. O beijinho na testa demasiado quente. O termómetro a dar 38,4. A sensação de que as coisas me fugiram ao controle. Não. Estiveste doente pela primeira vez na tua vida e foi cedo - e eu martirizo-me
por não ter insistido mais com a mama, se calhar é de não ter mamado suficiente, meu deus, meu deus. E fomos a Santa Maria de coração na boca e nas mãos e em todo lado menos no sítio dele. De lágrimas presas no peito. E deram-te uma pulseira vermelha e eu não sei como não caí alí redonda no chão. Estavas constipada.
Porque eu também estava. E eu martirizo-me, mas será que devia ter evitado o contacto, será que foi daquele beijinho instintivo. Estavas só constipada. Não tinhas tosse convulsa nem bronquite nenhuma. Uma constipação.
E em casa vi-te a febre todos os dias tantas vezes, mais do que as que gosto de dizer que vi. E cada espirro teu o meu coração mirrava. E cada tosse tua o meu coração desaparece. E eu queria porque queria ficar com esse catarro todo so para mim. Tanto medo! Não tive medo da constipação. Tive medo de todas as vezes que estiveres doente e eu não possa fazer nada a excepção de ficar de olhos esbugalhados a ouvir o que devo fazer. Tenho um medo sobre-humano de te acontecer alguma coisa. Imagino catástrofes de quedas em escadas contigo ao colo. É um amor tão desmedido. Tão grande. Que tem associado um medo tao desmedido, tão grande de te perder.
És a minha filha, meu amor. E o que te amo não é racional. É paixão pura. É devoção incondicional. É como no dia em que não dormiste comigo pela primeira vez e a mãe chorou à noite de roda do berço vazio, qual mãe leoa à procura da sua cria.
Não tussas mais por favor. Não fiques entupida. Não tenhas mais febre por favor. Que me partes o coração.
Ja passou querida...infelizmente estas situações fazem parte :( mas tem que se ter força e coragem! Beijinho grande para as duas.
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