Bebé com bicho

Toda a minha infância foi passada com animais. O meu primeiro animal de estimação - depois de muito azucrinar a cabeça à minha mãe - foi um canário amarelo chamado, pomposamente de "Fofinho". Chirleava todas as manhãs na varanda do meu quartinho cor-de-rosa, numa gaiola também ela cor de rosa. Secretamente, estava convencida que o Fofinho era, na verdade, uma Fofinha - que era afinal o que eu tinha tão insistentemente requisitado - apesar de toda a gente me dizer o contrário. Tinha 6 anos.

Depois tive mais Fofinhos a chirlrear pela manhã. Tive gatos, muitos gatos. O primeiro chamava-se Sócrates, não em apanágio ao ex-primeiro ministro, mas porque andava na altura a ler o Mundo de Sofia. O gato era o Sócrates e os três peixes o Aristóteles, o Platão e o Descartes. Tinha 11 anos.

Depois mudámos de casa, para uma vivenda com espaço ao ar livre. O gato Sócrates escapuliu-se. Tive o Tareco, tive a Tareca, tive o Senhor Tobias - que ainda lá anda feliz e gordo (já foi uma salsicha, mas diz que agora está mais enformadinho) a subir às arvores e a caçar passarada.
Arranjámos um boxer babão que dava os puns mais mal cheirosos do mundo, com a mania que era um cachorrinho pequenino pela forma como se sentava alegremente no meu colo. O Gorbi, porque nasceu num aniversário da queda do Muro de Berlim. O Gorbi não teve longa vida, infelizmente e veio a Raisa em sua substituição, uma Cocker Spaniel de orelhas a arrastar no chão.

A minha infância e adolescência foi sempre rodeada de animais de estimação e tenho-lhes a todos guardado um bocadinho de coração. Como filha única, foram muitas vezes os meus companheiros de brincadeira. Na adolescência espinhosa, foram meus confidentes e verdadeiros amigos, que ouviam tudo (tenho a certeza) e respondiam com a ternura que só um animal sabe disponibilizar sem pedir nada em troca.

Acredito piamente que conviver com animais na infância torna os putos melhores, mais meigos, mais doces. Gostar de animais faz parte daquilo que que eu pretendo para a minha filha.

Neste momento vivo numa casa que detesto com todas as forças do meu ser, onde a Cuca - a minha gata angolana - pode escapulir-se e andar debaixo dos carros ou a comer baratas, ou seja, a Cuca neste momento nao pode estar em casa connosco, por questões básicas de higiene. Mas é meu objectivo que a Cuca e a Matilde sejam grandes amigas. Quando sairmos daquele buraco, depois de um banho de 20 horas e das vacinas todas em dia, vou adorar vê-las em interacção. Para já a Matilde observa a Cuca. A Cuca observa a Matilde. As duas demonstram interesse. Acho que há aqui imenso potencial de amizade futura!








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