Mamã-Gata-Leoa
Antes de ser mãe eu não queria muito saber. Era deliberadamente livre, desafiante, irrequieta das emoções. Selvagem na voracidade de viver uma vida preenchida na esperança de colmatar o vazio que sentia associado a uma sensação consistentemente instatisfeita. Era, propositadamente, desconcertante, provocadora, arriscada. Era era hedonista. Era - era, confesso - frágil e mostrava-me um vendaval que se levantou dizendo a quem me ouvisse que não sabia para onde ia, não sabia por onde ia, mas sabia que não ia por aí.
Ser mãe mudou-me a estrutura, a arquitectura, o desenho. Ser mãe mudou a minha natureza. Fortaleceu-me, deu me motivo, deu-me sentido. Fez-me estável, na procura da perfeição, no caminho do sucesso. Fez-me querer ser uma mulher melhor, em casa, no trabalho, na rua, ser uma mulher melhor para mim, para os outros. Ser mãe fez-me gostar imenso de mim. Valorizar-me em todas as minhas recém descobertas valências para fazer acontecer aquilo que eu quero que aconteça porque sei que é assim que deve acontecer. Mostrou-me que sou bem sucedida. Que tenho potencial. Que consigo articular o mãe-trabalhadora, embora custe, horrores, passar tanto tempo longe do meu bebé a pontos de a sentir mais agarrada à babá do que aquilo que eu queria. Não sou perfeita. Sou possessiva das minhas coisas e dos meus. Quero compreensão, não quero aceitação. Assumo-me super-mãe-me-against-the-world-if-I-have-to. E também falho, quando não há batatas para a sopa da pequena e vou à pressa depois de 12 horas de trabalho ao supermercado. Falho quando chego a casa tão cansada que a minha filha me estendeu os braços a pedir colo e eu, de olheiras até ao Japao, não vi, e tenho o coração apertado desde ontem por causa disso. Quando, por mais que me esforce, por mais que tente, por mais que me dedique, não me dão a estabilidade que tanto procuro. E Deus sabe que isso confunde, mói, faz querer gritar ao mundo que eu sou mais eu agora, que eu faço o que quero e o que eu quero é estar com a minha filha em paz de espírito, que não quero mais isto, que quero mais aquilo que gosto, que quero, que sei que é o melhor. Que não tenho medo. Que até posso ser gata domesticada - quando sinto estabilidade até ronrono - mas quando há que me defender a mim e à minha filha viro gata do mato arraçada de leoa. Sem medo.
Ser mãe também é ser super-mulher, é levar o mundo na frente se necessário. E eu levo. Se for preciso, levo.
Um dia hei-de experimentar essa sensação ;)
ResponderEliminarSónia
Taras e Manias
Minha querida és, sem sombra de dúvida, uma Super Mamã.
ResponderEliminarBeijinho :)
Não entendi bem do que se tratava, mas gostei, como gosto de todos os textos... e das fotos da Matilde. Hhehehehe
ResponderEliminar